Hoje temos uma questão difícil em mãos, qual será a melhor altura do ano para se visitar o Vale do Douro?

Bem, a resposta a esta questão depende inteiramente dos gostos de cada um que lá quer ir. Somos todos diferentes e por norma somos atraídos pelas sensações que mais gostamos de sentir.

O Vale do Douro é bastante diverso devido ao seu enorme tamanho, aqui terá as mais variadas sensações consoante a época do ano em que nos encontramos.

A prática da viticultura é um ciclo sem fim, existe sempre algo para fazer nas vinhas e quando os agricultores têm uma pequena pausa no cuidado das mesmas, tratam de outras vertentes da lavoura, como as oliveiras, os medronheiros e até outro tipo de plantações como a batata, tomate, alhos.

O Douro é dono de um microclima muito próprio, pois a sua cadeia montanhosa, mais propriamente a montanha do Marão, serve como barreira ao clima oceânico, dando lugar ao clima continental, com Verões mais secos e quentes e Invernos bem frios e algo chuvosos, estas são as razões fundamentais para a qualidade do vinho lá produzido.

Podemos então concluir que o Vale do Douro tem diversas atividades todo o ano, o que nos permite visitá-lo e ter sempre uma experiência diferente.

Como tal para melhor compreender qual será a melhor para si, deixamos aqui a nossa perspetiva do que irá encontrar consoante a altura do ano em que se encontra.

Primavera

A Primavera é aquela altura mágica do ano onde o ciclo da vida tem mais um recomeço. Ainda a primavera vai tímida no Vale do Douro, quando as donas destas paisagens, as videiras, depois de terem estado hibernadas todo o Inverno, começam a dar o ar da sua graça.

Nos seus ramos desnudados pelas temperaturas bem baixas que se fizeram sentir, começam finalmente a avistar-se pequenos rebentos verdes, ainda de um verde bastante juvenil, no chão começam também a aparecer as primeiras flores e trevos, que como seguindo o exemplo se fazem notar a cada dia mais, tapando os espaços em branco entre linhas de videiras.

É assim que se começa a dar cor a um quadro que passará de tons de castanho, para tons de cores vivas com diferentes tipos de verdes, amarelos, rosa e branco, que aos poucos vão envolvendo a paisagem em todas as direções.

Com a Primavera a avançar a bom ritmo, começam as árvores de fruto a dar flor como as cerejeiras com as suas bonitas flores de cor de rosa que aos poucos vão invadindo a paisagem ou as não menos bonitas Amendoeiras que abundam por estas paragens e cobrem algumas partes da região com mantos de um branco idílico.  

Os aromas são de uma frescura indescritível, como o das laranjeiras abundantes nas zonas ribeirinhas, aromas estes trazidos pela brisa fresca e prazerosa que ainda se faz sentir, uma panóplia de sensações.

Nesta altura do ano, intensificam-se os trabalhos nas vinhas com as preparações da próxima colheita, é comum a poda das videiras, onde se aperfeiçoam as plantas e se removem os ramos mortos pelo frio, para que a planta ganhe força e criar novos ramos verdes e prontos a produzir.

O clima na Primavera é algo irregular, tendo dias de imenso sol e outros de nevoeiro e chuva, mas mesmo com condições menos favoráveis, será sem dúvida uma viagem memorável.

Verão

Existe uma expressão regional muito caricata do Vale do Douro que diz “aqui temos 9 meses de Inverno e 3 de Inferno”, o que caracteriza de uma maneira superficial, mas contudo correta o clima vivido nestas Terras.

Como devem calcular “os 3 de Inferno”, são os 3 ardentes meses de Verão que se fazem sentir no Vale do Douro.

Esta época do ano sendo a que coincide com os meses de maior afluência turística no país, são por consequência os meses de maior atividade na região. As estradas são tomadas pelos curiosos que vêm descobrir as maravilhas deste lugar, no rio passam os cruzeiros que durante 9 meses farão do rio a sua casa e do mar de montanhas em forma de escada a vista de uma vida.

Os Barcos Rabelos, que outrora faziam longas viagens até Gaia com o precioso líquido a que chamamos de vinho para que lá repousasse e quando pronto enviado para as mais diversas partes do mundo, hoje em dia apenas deambulam pelas águas do vale tendo recebido outro propósito à sua função, são quase como miradouros flutuantes.

O verão é sinónimo de passeios ensolarados pelo meio das vinhas, onde podemos notar bagos de uva já a ganhar cor, de piqueniques em miradouros idílicos que abundam em qualquer parte da região ou até mesmo de provas de vinhos sentados tranquilamente numa das muitas adegas existentes, a grande maioria antigas e cheias de histórias. Afinal de contas a Região Demarcada do Douro, primeira do seu género a nível mundial, já conta com 264 anos de existência.

Se a primavera pintou as videiras, o Verão veio para pintar os vagos de uva, que ganham cores diferentes consoante a casta. É nesta altura que as videiras passam de crianças vulneráveis a adolescentes fortes e prontos para tirar o maior partido possível da riqueza dos solos e das mãos ensinadas pelo tempo dos agricultores que tanto amor tem por eles.

Exigem agora mais cuidados, pois já nos encontramos na corrida final para a colheita, não há margem para erros, o controlo de qualidade é de um profissionalismo impressionante.

Nesta altura do ano devido ao intenso calor, é necessário usar proteção solar e ter consigo quantidades a generosas de água, as temperaturas no pico do Verão serão raramente menos que 30º C e regularmente acima dos 35º C, para os amantes do calor será um paraíso, mas recomendamos prudência para que possa tirar o maior proveito do Verão nesta memorável região.

Outono

O fim do Verão e o início do Outono marcam o fim do ciclo vinhateiro, são o culminar de meses árduos de trabalho nas vinhas. É nesta altura que começa a frenética atividade de vindimar, e acreditem quando vos dizemos que é frenético, nesta altura do ano é feito o último esforço para que as colheitas tenham um final feliz e com qualidade.

As gentes trabalhadoras destas terras, trabalham a grande ritmo pois a chuvas características do Outono estão aí á porta, o que fará com que as uvas se tornem aguadas e com menos açúcar. Quando o que se quer são uvas doces, bem doces, pois é a doçura que lhes confere o grau alcoólico e as qualidades de aroma e sabor.

O verão já passou, mas engane-se quem pensar que a atividade turística terminou, a época das colheitas é muito requisitada pelos amantes e curiosos da viticultura. Uma das razões para ser tão afamada esta época é o facto de que no Douro muitos dos locais oferecem uma vivência tradicional desta atividade, usando ainda métodos antigos como a colheita manual, que é uma regra imperativa no Douro.

A localização das vinhas, em socalcos estreitos, tornam na sua grande maioria impossível o acesso de máquinas para o efeito de vindimar, mas não só por isso, a não utilização de máquinas promove a sustentabilidade das vinhas que sendo vindimadas à mão sofrem menos stress.

Outra das atividades é o pisar das uvas, sim o pisar das uvas com os nossos próprios pés dentro dos enormes lagares, onde se cantam músicas tradicionais e alusivas às vivências da terra. É esta mistura do “ruralidade” e atividade turística que faz florescer cada ano mais o Vale do Douro.

Com o Outono a andar a passos largos, surge uma melancolia na paisagem que certamente não o deixará indiferente, as folhas verdes dão lugar a castanhos, vermelhos e laranjas dos mais diversos tons. É talvez a melhor parte do país para se vivenciar o Outono, e muito por culpa do Homem, pois sem os socalcos e vinhas, não haveria tamanha explosão de cor, as vistas aquecem-nos a alma no frio que já se faz sentir.

Outono é também sinónimo de frutos secos, como a amêndoa e a castanha que têm a sua colheita nesta altura, e que belas castanhas se comem por aqui, na sopa, num assado ou simplesmente assadas com sal. Mas não é só, outra das atividades típicas da região é a apanha da azeitona que decorre logo após a vindima, que representa o segundo bem mais produzido da região, tendo altos padrões de qualidade, como já é habitual em Portugal.

É assim o Outono no Douro, um anúncio de colheitas, de cores vibrantes e sensações únicas trazidas pelas tradições que há muito moram neste bonito Vale.

Inverno

O Inverno transforma o Douro, o frio traz consigo o cair total das folhas despindo a paisagem de cores, mas de certo forma faz-nos descobrir a parte mais íntima destas paisagens, que se tornam nostálgicas, quase que paradas no tempo.

É nesta altura que as atividades agrícolas diminuem e por consequência as povoações se tornam mais monótonas e menos visitadas, permitindo a quem escolhe o Inverno para lá ir, uma experiência mais calma, sem confusões, privilegiando a contemplação da região, digamos que, com um outro olhar.

No rio, devido às chuvas e ao consequente aumento do caudal, os barcos param a sua atividade, concedendo-lhe uma calma indescritível.

Aos que procuram o silêncio, e nós sabemos que hoje em dia é um bem em escassez, é aqui que o podem encontrar, nestas montanhas sem fim, grandiosas. Faz-nos questionar como num sitio de semelhante dimensão o silêncio consegue ser ainda maior que o seu tamanho, tão grande que sente por todo o corpo.

As chuvas, os ventos e o frio, deixam-nos ver um Douro mais cru e austero, verdadeiro à sua essência mais pura, mas nem por isso o Douro pára. As provas de vinhos passam a ser feitas em espaços quentes e o vinho devido às baixas temperaturas sabe ainda melhor, pois aquece-nos a alma e o coração, como se de um belo chá á lareira se tratasse.

Esta é também a melhor altura para conhecer os pequenos tascos e restaurantes da região, onde irá encontrar maioritariamente as gentes da terra, sempre prontas a beber connosco ou a contar-nos histórias, de um passado não muito longínquo em que tudo era diferente, acredite as horas passam e nem damos conta, tamanha é a calma em que nos sentimos.

A gastronomia, com os seus assados e sopas magníficas e sobremesas de fazer cair o queixo, é algo a não perder. De facto, estas iguarias são mais apetecíveis nesta altura, o frio faz-nos usufruir mais e valorizar mais os seus sabores.

É esta nostalgia e intimidade que o Douro carrega em si no Inverno que faz com que nos deixemos envolver por ele, num abrir e fechar de olhos!

Pois até das cores escurecidas do Inverno, o Douro fez um quadro, isto é quão bonito ele é!

Como não poderíamos escolher uma das épocas do ano, pois somos amantes de todas elas, cada uma à sua maneira, deixamos a si a tarefa de escolher!

E caso a indecisão apareça no momento da escolha, teremos todo o gosto em ajudá-lo, porque também o Douro faz parte de nós!