Portugal sempre foi um país de imensas riquezas no que toca a Biodiversidade e Natureza em geral, por alguma razão somos considerados um paraíso às portas da Europa. Sempre fomos um povo que na sua maioria prezou pela conservação e manutenção de espaços verdes, e talvez o maior marco de preservação tenha sido a criação Parque Nacional Peneda Gerês.

A sua imensidão deixa qualquer um boquiaberto e foi criado com o intuito de não só proteger a Natureza que em si está circunscrita, mas também todas as suas povoações, coisa rara em Parques Nacionais que normalmente não as tem dentro das suas áreas de influência.

Como tal e para que perceba um pouco melhor a sua importância, deixamos aqui para si as vilas mais interessantes do Parque Nacional do Gerês:

Fafião

Aqui vivem os lobos do Parque Nacional, mas não se deixe enganar nada tem a temer, estes lobos são de uma tremenda amistosidade, cordiais aquando a nossa chegada e sempre prontos para nos dar o ar da sua graça e apesar de bastante orgulhosos e protetores do seu território, em nada se importam de o partilhar desde que as regras sejam cumpridas. Mas que lobos são estes? Presumimos que se esteja a questionar. 

Os lobos que vos falamos, são em facto as gentes desta fantástica vila, que sempre nos surpreendem a nós e a quem tantas vezes lá levamos, com a sua simplicidade .

O lobo ibérico sempre fez notar mais a sua presença nesta zona do país, fustigado pela caça durante anos noutras partes de Portugal foi aqui que encontrou de certo modo um refúgio, onde hoje em dia é considerado protegido e de enorme importância para o ecossistema, pois representa o topo da cadeia alimentar. 

Co-habitar com este tipo de animais predatórios nem sempre é fácil, mas aqui as gentes perceberam como o fazer e por largos anos que assim acontece. 

Esta região sendo conhecida pelas suas atividades agro-pastoris é um chamariz para os predadores que vêem no gado uma refeição bem mais fácil do que um veado ou um cavalo selvagem. Dito isto, durante anos foi travada uma “guerra” entre os habitantes de Fafião e os lobos, o que levou à criação de um dos monumentos mais impressionantes da região, o Fojo do Lobo, datado do Séc. XV e localizado na colina do vale atravessado pelo Rio Fafião, aqui erguem-se em forma de triângulo 3 enormes paredes de blocos graníticos, na ponta do triângulo, que está no sentido descendente da colina, localiza-se um poço com cerca de 3 a 4 metros de profundidade, o destino final dos lobos que em outros tempos se aventuravam a caçar o gado da aldeia.

É importante notar que a caça ao lobo, não era feita por desporto e muito menos por gosto, pois era de um perigo tremendo, era feita para garantir a subsistência da comunidade que devido ao seu isolamento, dependia inteiramente do que produzia. Daí o nome lobos, que apesar de ser um temível inimigo, mereceu o respeito do locais, que em sua honra se intitularam de “lobos”. 

Mas não só de lobos é feita esta vila, aqui aplica-se o verdadeiro significado de viver em comunidade, porque cada um depende do outro, para o bem geral da aldeia. Um exemplo de cooperação entre locais, são as chamadas “Vezeiras”. Uma Vezeira consiste na condução do gado da aldeia, por uma pessoa diferente todos os dias, não interessa a quem pertence cada cabeça de gado, o líder da Vezeira tem a responsabilidade de no seu dia predestinado proteger e cuidar dos rebanhos dos restantes habitantes, permitindo que se foquem noutras atividades, como o cultivo das terras, a limpeza dos currais ou mesmo a elaboração de bens como o pão, o mel e os licores.

Fafião é isto um exemplo de esforço comunitária e perseverança. São estes pequenos lugares no meio de lugar algum que nos movem a lá levar pessoas, pois sabemos que é impossível não ficar na memória, tamanha recordação!

Ermida

Não muito longe de Fafião atravessando o vale, encontramos a charmosa vila da Ermida. 

Logo à chegada somos presenteados com um maravilhoso miradouro com uma vista sobre o declive da vila, onde sempre paramos com quem lá levamos de modo a terem uma melhor percepção do que os rodeia. Munida de diversos terraços agrícolas, sempre verdejantes, ouvem-se sinos a tilintar, rápido perceberá que o som vem do pescoço das pujantes vacas da região que por lá se alimentam todo o dia.

Esta aldeia tal como a maioria das aldeias do parque, tem poucos habitantes, facto que se deve à pobreza de oportunidades profissionais da região e falta de entretenimento que as novas gerações tanto necessitam. No entanto, mais uma vez o esforço comunitário tem mantido a vila com vida, e nós de certo modo interiorizamos essa ideia como uma das nossas missões, devolver à região a exposição que tanto necessita.

Ao caminhar pela vila, percebemos o quão antiga é, parte das casas estão desabitadas, mas nem por isso perdem o seu brilho. Sendo a arquitetura da região maioritariamente feita a partir do granito, as casas apesar de pequenas, são robustas, com paredes grossas para resguardar o interior, devido ao frio que se faz sentir na região nos meses de Inverno, têm ainda uma característica muito singular, nestas casas os animais normalmente habitavam no “Rés do Chão”, ficando o andar mais alto para os seus donos, isto deve-se ao facto dos animais produzirem grandes quantidades de calor corporal e visto que o ar quente sobe, aqueciam assim a parte superior da casa. Inteligente não acha?

Daqui pode ainda tomar diversos trilhos que o levarão às mais diversas partes circundantes do parque, como a nossa experiência na área nos ensinou. No interior da vila terá os acessos para diversos trilhos, com níveis de dificuldade para todos os gostos, vai precisar apenas de bom calçado, roupa confortável, água e claro fato de banho se do Verão se tratar, pois não vai querer perder as águas cristalinas que poderá encontrar no caminho.   

Gerês

De todas as vilas do parque esta é sem dúvida a mais conhecida, devido ao seu nome ser o mesmo do parque, mas não só. Teremos de recuar largos anos na história, até aos inícios do Séc. XVII, para percebermos como tudo começou. 

Foi nesta altura que quando os pastores da região que por ai deambulavam com os seus rebanhos, se aperceberam que onde hoje se situa a Vila Termal do Gerês, estranhos vapores saiam das águas do rio que por ali passava, num esforço para perceberem do que se tratava, desviaram o rio para a base da montanha e logo descobriram inúmeros poços de águas fervilhantes. 

A notícia rápido se espalhou pela região, chegando a uma localidade ali próxima chamada, Covide, onde por sua vez habitava um médico de seu nome, Manuel Ferreira D’Azevedo, que apercebendo-se do seu potencial medicinal, logo começou por enviar os seus doentes para lá se banharem, obtendo resultados bastante satisfatório e com isto mais uma vez a palavra se espalhou, chegando de certa forma a todo o país.

Foi então que uma pequena estância termal aos poucos foi surgindo, primeiramente muito rudimentar, feita de cabanas de madeira, que apenas protegiam os poços e os banhistas das adversidades do tempo.

Com o aumento dos doentes que chegavam procurando curas, para as mais diferentes maleitas, ficou evidente a falta de infraestruturas e num esforço comunitário como tão típico é da região, os locais escreveram ao Rei de Portugal na altura, D. João V, um solene pedido de ajuda.

O rei nada hesitante e percebendo o potencial da região, logo se predispôs a dar uma grande soma para a causa, construindo um novo acesso, a ponte do Rio Cávado, um Hospital para acomodar os doentes e seis casas de banhos, muito mais desenvolvidas que as anteriores, feitas de granito e com todas as condições necessários.

Hoje em dia faz as delícias de quem lá vai, com apenas uma rua maioritariamente composta de estâncias termais, hotéis, comércios regionais e algumas casas de habitantes, é um pequeno paraíso no centro de um dos mais bonitos vales do Parque Nacional. 

Esta é a história de uma Vila que verdadeiramente nasceu das águas que nela correm!

Cabril

Junto à bonita albufeira de Salamonde, importante abastecedora de energia elétrica da região e que tantas vezes atravessámos nas nossas aventuras, encontramos nas margens do rio que a abastece, o Cávado, a Vila e Freguesia de Cabril. Como o nome nos deixa perceber, provém do facto de por estas paragens abundarem atividades agropastoris, nomeadamente com cabras. 

Á chegada a Cabril somos recebidos pelo imponente maciço rochoso da Serra do Gerês, como um gigante sobre nós, o verde circundante providenciado por árvores como os típicos medronheiros, azevinhos e teixos é a prova irrefutável da riqueza destas terras, Cabril sendo freguesia não se compreende apenas à vila, é como dizem, um mosaico de pequenos povoados que ali se foram aglomerando, sendo no total 15, bastante antigos e com uma significativa importância histórica e cultural. 

Como prova de tal antiguidade temos umas das suas atrações, que apesar de apenas visível quando a albufeira está com o nível de água baixo, caso a sorte lhe sorria irá poder contemplar a ponte romana que é considerada a primeira ligação entre os diferentes povoados 

Falando de Cabril como freguesia e não apenas como vila, são inúmeras as maravilhas que pode observar, desde as cascatas como a de Pincães, ou a das Sete Lagoas (estando esta numa zona de proteção parcial, tem um nrº limitado de pessoas, cerca de 10), até às famosas Silhas dos ursos, muito antigas, que protegiam os favos de mel dos famintos ursos que por estas terras andavam á mais de 800 anos, exemplo disso são a Silha do Cubo de Baixo e a Silha da Pala Doce. 

Mas não só de monumentos milenares e paisagens de cortar a respiração é feito o Cabril, daqui apesar das suas simples gentes, também saíram notáveis da história, pois foi num dos povoados da Freguesia, Lapela, que nasceu João Rodrigues Cabrilho que no Séc. XVI, descobriu a capitaneando 2 barcos da Coroa Espanhola, a costa da Califórnia, inacreditável, não é verdade?

E como prova da bravura destas gentes que aqui habitam, temos não muito longe de Cabril a famosa Ponte da Mizarela, onde num ato heróico os “Barrosões”, nome dado a quem habita a região, fizeram frente às tropas de Napoleão em 1809, criando-lhes enormes problemas.

Terra de beleza inquestionável, história sem fim e gentes de uma coragem sem precedentes, aqui fica a Vila e Freguesia de Cabril.

Pitões de Junias

A ida a Pitões leva-nos às zonas mais altas e por sua vez mais frias do região. 

Tendo fama de serem gente guerreira, muitas vezes foram postos à prova, ora pelos Espanhóis que a todo o custo tentavam conquistar estas terras, ora por nobres portugueses, que por ali perto tinham domínios e pretendiam anexar a região. Mas faça-se justiça à verdade, nunca sucumbiram!

Foi essa força de superar que sempre caracterizou Pitões de Júnias, terra conhecida também pela sua qualidade no que toca a fumeiro, pois situa-se num belo planalto, chamado Mourela, a 1220 metros de altura, onde o gado bovino, abundante nestas paragens, anda livremente, alimentando-se da mais verdejante pastagens, e por isso dizem ter os melhores produtos fumados da região e quiçá da país, delícias estas que não pode perder, vá por nós!

Para além da bravura e da boa comida, esta região caracteriza-se também pelo ancestral que é, tendo estado sempre em quase pleno isolamento, as crenças ancestrais que aqui nasceram, com povos como os celtas, nunca deixaram de ser tradição, exemplo disso é o Magusto Celta, onde ainda hoje anunciam o fim do Verão e o início do Ano Novo Celta.

Andando pela aldeia, para além das bonitas casas de granito, poderá visitar a “Corte do Boi do Povo”, hoje em dia sede do Ecomuseu do Barroso, onde outrora se tomavam decisões e se delineavam regras em comunidade para a comunidade. E como o pão sempre foi o sustento do povo, poderá contemplar o antigo forno comunitário, onde ainda hoje como ato simbólico se coze o pão da aldeia e caso se perca no tempo, o relógio de Sol da aldeia certamente lhe vai prestar a informação necessária.

Para terminar a visita a este magnífico lugar no meio das montanhas da maneira certa, há que caminhar um pouco até aos limites da vila, onde um pequeno ribeiro divide o planalto da Mourela e a Serra do Gerês, aí irá encontrar, ainda que parcialmente destruído um bonito mosteiro, casa da ordem cistercense, de seu nome Mosteiro de Santa Maria de Júnias, data do Séc. XII, e é um dos mais isolados do país, onde esta ordem de monges, procurou viver uma vida humilde e de penitência.

Bem-vindos Pitões de Júnias onde da bravura se fez Terra!

Tourém

Não muito longe de Júnias e ainda mais a Norte, literalmente colada a fronteira com Espanha, fica Tourém, intimamente ligada à história da região pela sua posição territorial privilegiada. Foi no Séc. XIII pela mão de D. Sancho I, segundo Rei de Portugal, que lhe foi confiada a função de defesa fronteiriça, o que tornou a vila na linha da frente na defesa da fronteira durante as diversas épocas de tumultos entre Portugal e Espanha. 

Aqui não há casa antiga que não tenha por cima das portas exteriores buracos onde cabem o cano de um arma, devido ao constante perigo outrora sofrido pelas gentes que aqui viviam, pois esta povoação está cercada por Espanha em todas as direções, sendo a parte Sul a única que está virada para território português.

Aqui, tal como em Júnias, existe também um forno comunitário, utilizado também em momentos simbólicos e uma “Casa do Boi do Povo” que hoje em dia serve de Ecomuseu, onde se retratam temas como o contrabando, muito famoso por estas terras devido ao fácil acesso á fronteira  e até mesmo de exilados políticos vindos de Espanha durante a ditadura, que pela proximidade procuravam refúgio em Tourém.

E como a religião está sempre presente, a bonita igreja de S. Pedro será outra das paragens obrigatórias, datada do Séc. XIII, toda feita em granito, tem em si uma longa conexão com o mosteiro de Santa Maria de Júnias, que muito provavelmente terão trabalho em conjunto, durante o seu tempo de maior atividade. 

Por aqui os prados verdejantes existem também, não fossem as vacas donas e senhoras deste lugar, o silêncio do planalto é notável e há noite devido ao seu isolamento e ausência de aldeias a emitir luz em seu redor, a noite é escura como o breu e o céu, o mais estrelado que provavelmente irá ver! A não perder! 

Soajo

Indo até á parte Oeste do Parque Nacional da Peneda-Gerês, vamos ao encontro da Serra do Soajo e da muito antiga vila do Soajo, caracterizada pelos seus declives intensos e extensa rede hidrográfica o que lhe atribui uma elevada pluviosidade, resultante num profundo verde em todas as direções. 

Pensa-se ter surgido no Séc. I, quando grupos populacionais que então se tinham começado a estabelecer as zonas baixas do vale, começaram a concentrar-se mais nas zonas altas da Serra, no entanto foi apenas no ano de 950 que surgiu o primeiro registo escrito, fazendo referência à partilha das terras do Soajo feita pela Condessa Mumadona Dias sua proprietária, dividindo-as pelos seus descendentes.  Durante toda a sua existência esta vila foi sede de concelho e até mesmo municipalidade, tendo o seu estatuto sofrido imensas alterações ao longo do tempo, tendo apenas recebido a carta foral (carta que visa estabelecer um concelho e regular a sua administração) no Séc. XVI.

Mas uma coisa é certa, algo que nunca mudou foram as suas tradições e cultura fortemente enraizadas pelo ambiente comunitário que aqui se faz sentir, característica comum à grande maioria das aldeias do Parque Nacional, devido ao isolamento que sempre aqui se viveu. 

No entanto, apesar do isolamento, a vila do Soajo sempre foi de notar pelo seu nacionalismo, pois desde o nascimento da nacionalidade portuguesa, o Soajo sempre foi fiel à coroa portuguesa, enquanto outras aldeias da região se declararam espanholas. Por esta razão a vila e a área pertencente, sempre gozaram de privilégios únicos, como os de não alojarem tropas em tempos de guerra, aos quais só lhe seria permitida entrada aquando da presença do rei ou mesmo a interdição de fidalgos e cavaleiros à habitação dentro dos seus limites, privilégio dado pelo Rei D.Dinis no Séc. XIII, regalias atribuídas também pelo seu posicionamento estratégico e pela sua riqueza em fauna e flora, já denotada na altura e que assim ficou protegida.

As gentes desta vila cedo se começaram a chamar de monteiros, devido à sua atividade principal ter sido a caça que abundava por estas paragens dispondo de ursos, cabras-bravas, lobos e raposas, facto que não fugiu aos olhos da corte portuguesa que lá criou uma das primeiras “Montarias do Reino”, zona protegida para caça, o que atribui à vila visibilidade e respeito por parte de toda a nobreza, que de certa forma sempre foi de encontro com a vontade dos seus habitantes.

Portadora de uma simplicidade e calma prazerosa, a vila tem para oferecer a quem a visita uma viagem a tempos antigos, com as suas ruas feitas com pedra granítica, assim como as suas casas feitas de grandes blocos rochosos, mas há mais, como por exemplo a Anta do Mezio, que se caracteriza mais comumente por “dólmen”, que no período do Neolítico servia como local de repouso para os mortos, isto em 5000 A.C. Outro dos traços históricos e prova irrefutável do sentimento comunitário vivido é a Eira Comunitária do Soajo, composta por 24 espigueiros onde toda a aldeia se juntava para guardar as colheitas do ano, sendo depois dividida igualitariamente por todos, sendo que o mais antigo data de 1782.

Aqui respira-se ruralidade e história, isto é o Soajo!

Castro Laboreiro

A Serra do Soajo como grande que é, não se trata apenas da Vila do Soajo, tem em si também outros tão ou mais antigos núcleos populacionais. Sendo um dos mais históricos e singulares, Castro Laboreiro. Situada a mais 1000 metros de altura num planalto, a vila de Castro Laboreiro, deve o seu nome à designação “Castrum”, que deriva do povo castrejo de origens celtas, conhecidos por fortificar as suas aldeias, que após milhares de anos de nomadismo a viverem de caça e pesca, aqui se estabeleceram e adotaram práticas pastoris, mais propensas à fixação dos povos, adotando também práticas de defesa contra outras tribos.

Este factor já por si só nos indica a ancestralidade deste sítio, existindo vestígios de civilização que datam de há 5000 anos atrás, que nos indicam que aqui se desenvolveram em conjunto 2 grandes culturas, a dolménica e a castreja, sendo nestas terras que se encontra o maior registo histórico de dolmens (campas ancestrais), em Portugal, perfazendo mais de 120 exemplares em todo a planalto.

Mas não só de ancestralidade é feita esta vila, à margem do que acontece nas outra vilas do parque, aqui a natureza não se adaptou ao homem, pelo contrário impôs-se com toda a sua bravura e poder, terra de planaltos extensos e serra agreste, portadora da águas cristalinas do Rio Laboreiro que por ali corre e alimenta a paisagem, com as suas cores camaleônicas que mudam com o mudar das estações, aqui meus caros o homem teve de fazer das tripas coração e aprender a viver com a natureza.

E a prova disso é a maneira como a vila outrora funcionava, dividindo-se em 3 tipos de ocupação. Nas zonas mais protegidas junto ao vale situam-se os aglomerados de habitação permanente, sendo que dependendo da altura do ano mais 2 tipos de ocupação sazonal surgem, as brandas, núcleos populacionais situados a maior altitude, utilizados no Verão pelos pastores onde lá viviam, com os seus animais, até que os verdes prados desaparecem com o aproximar do Outono e como outrora no Inverno nevava bastante e impossibilitava a coexistência dos pastores nestas altitudes, foram criadas as inverneiras, escondidas na parte da Serra onde os ventos do norte não chegam e as temperaturas se mantinham propícias para a subsistência dos povos durante o Inverno.  

Um outro pedaço de história bem denotado na paisagem é o Castelo de Castro Laboreiro, diz o povo que foram o Mouros que o construíram, mas é muito o debate em volta de quando surgiu, sendo a provável origem, romana, no entanto ao longo dos seus milhares de anos levou a devida atenção, primeiro por D. Afonso Henriques, primeiro Rei de Portugal que o muralhou e em seguida D. Dinis que reedificou para defesa da fronteira ali próxima.

E para os aficionados de animais, aqui surgiu uma das raças caninas portuguesas mais famosas, a que muitos chamam de Cão de Castro Laboreiro, mas a verdade é que na vila anteriormente referida a do Soajo, temos também um tipo de canino com as exatas mesmas características, conhecidos pelo seu forte sentido protetor, munidos com uma coragem sem precedentes aquando de enfrentar os lobos que são donos destas paisagens, durante as atividades pastoris, a este canino chamam de Cão Sabujo do Soajo, esta rivalidade, dura já por muitos anos, mas o que interessa nesta história é o animal em si, que sendo de um sítio ou de outro, sempre cumpriu as suas funções com uma dedicação inigualável. 

A existência do nosso país muito deve a estas pequenas aldeias, seja por motivos históricos ou culturais. Terra de ancestralidade, é uma árvore genealógica deste nosso país.

Lindoso

Deixamos agora as paisagens da Serra da Peneda e vamos até á irmã Serra Amarela, chamada assim pois na primavera se cobre da tão famosa carqueija que tem uma flor amarela como o sol.

Nas suas encostas situa-se Lindoso, uma pequena aldeia, mas não se deixe levar pelo “pequena”, porque apesar do seu tamanho é terra de grande valor histórico, natural e cultural.

Como que uma varanda, Lindoso fica sobranceira ao Rio Lima e á bonita Albufeira de Lindoso, onde se pode notar a rica vegetação que cresce nas suas margens, com bonitos declives acentuados, não é uma paisagem fácil de habitar, foram muitos os desafios que estas gentes tiveram que aprender a gerir, desde os rigorosos invernos, os fortes ventos do norte ou mesmo as intensas chuvas que aqui se fazem sentir, em suma é uma terra de muitos microclimas e talvez daí toda a sua riqueza em termos de fauna e flora.

No que toca a património Lindoso nada deixa a desejar, aqui foi construído o imponente e intransponível Castelo de Lindoso, primeira linha de defesa do Reino, pois na outra margem do Rio Lima situa-se Espanha, está tão perto que não fosse o rio a delinear a fronteira, nem notávamos a diferença. 

A sua edificação remonta ao início do Séc. XIII, no reinado de D. Afonso III, tendo sido intervencionado no reinado seguinte, o de D. Dinis. A sua vital função era de observação e proteção da fronteira, atividade que foi fulcral nas guerras travadas entre o Reino de Castela e Reino de Portugal, considerado no panorama militar nacional como um dos mais importantes monumentos militares, é de notar na sua construção o avanço tecnológico em relação a outros castelos construídos na mesma época, o que ditou a maneira de construção nos séculos seguintes.

Do castelo, a vista será abrangente e um presente para os olhos, nas proximidades irá notar pequenas estruturas e forma de casa, estamos a falar claro está, dos famosos espigueiros, tão abundantes em toda a região do Minho. Só em Lindoso, junto ao castelo, situam-se 64 destas estruturas, formando mais uma Eira Comunitária na região e dando a quem os deslumbra um panorama granítico e estático, no meio de uma região cheia de vida.

A aldeia de Lindoso em si, tem um aspeto vincado, feita de pedra granítica na sua grande maioria, só de olhar para ela quase que temos um vislumbre dos Invernos rigorosos que ali já se vivem por mais de 1000 anos, gentes corajosas as que lá vivem!

Mas contudo não vá embora sem provar algumas das suas iguarias, porque a boa gastronomia aqui reina também, desde a famosa broa, às saborosas “papas de sarrabulho”, há muito para provar, sempre na companhia do já famoso Vinho Verde do Minho e não companhia dos sempre bons anfitriões, o povo da aldeia de Lindoso!